O Semiplano do Pavor é um lugar onde os terrores que residem
nos cantos escuros, entre os clarões dos relâmpagos e nas sombras são bem
reais. Um encontro com estes terrores desperta nas pessoas seus medos mais
primais, distorcendo a realidade confortável que se conhece e quebrando a
barreira entre a sanidade e a loucura.
Durante um encontro com o sobrenatural, as pessoas são
bombardeadas pelo instinto básico de sobrevivência ao mesmo tempo em que por um
medo debilitante e a loucura. Após o encontro, as memórias ainda são frescas,
as cicatrizes mentais mais profundas que as físicas nos sobreviventes. Mas o
semiplano cuida de seus habitantes, e como as cicatrizes físicas se tornam
parte de sí, uma lembrança distante e esquecida de acontecimentos passados,
também acontecem com a memória do sobrenatural. Aos poucos os sobreviventes vão
relegando suas vivências pavorosas como exageros provocados pela imaginação inebriada
pela celeridade do momento, tempos depois, essas memórias não passam de peças
pregadas pela mente, uma forma de maquiar a realidade pavorosa, mas
confortável. Por fim, quando perto da
morte e senis, admitem que sua experiência pavorosa não passou de uma fantasia
insuflada por mitos e lendas - uma forma de tentar tirar a culpa da humanidade
de seus próprios atos inomináveis. Nem todos o semiplano consegue
"curar", é claro. Alguns possuem vivências fortes demais e constantes,
outros são jogados em prisões ou asilos que nada fazem além de lembrá-los
constantemente dos monstruosos acontecimentos que culminaram em seu
encarceramento, mas estes são as exceções, são os excêntricos e os profetas,
mas definitivamente loucos. Estas pessoas são rapidamente excluídas do convívio
social se insistirem em suas sandices, ou aprendem a ocultar seu conhecimento
negro e compartilha-los apenas com indivíduos com as mesmas experiências e
mesma determinação em não deixar o conhecimento sobre o mal que as brumas
ocultam desaparecerem nas névoas da memória.
Em Ravenloft, pessoas que não ficam completamente insanas
com os encontros com o sobrenatural ao longo do tempo acabam esquecendo os
detalhes do encontro até negarem completamente eles, atribuindo a eles apenas
histórias de lendas e mitos.
Este efeito ocorre cedo, em alguns momentos a mente da
pessoa luta em tentar da alguma razão lógica a sua vivência - este momento pode
enlouquecer a pessoa ou fazê-la admitir que sua mente deve ter pregado peças, e
que a vivência não pode ter sido assim tão sobrenatural quanto ele se recorda.
Com o tempo ele racionaliza cada vez mais a situação, um lobisomem se torna um
lobo grande, mas ordinário. Um vampiro se torna um assassino louco, um zumbi se
torna um doente leproso e um demônio se torna uma besta selvagem, exagerada
pelas sombras e a imaginação. Chega-se ao ponto de tentar negar provas
irrefutáveis. Mas a vivência nunca realmente desaparece, fica inscrito no âmago
da alma, nunca mais essa pessoa vai considerar bobagem as histórias sobre este
horrores, sempre levará a sério relatos deste tipo mesmo que, na superfície,
diga que não passam de histórias. Inconscientemente, essas pessoas evitarão os
lugares fatídicos, e se trancarão mais cedo em seus lares antes da noite cair.
Aventureiros não tem a mesma sorte, pois eles vivem
constantemente se esbarrando com o sobrenatural. Mesmo assim essas vivências
ficam um pouco borradas com o tempo, e é por isso que quando defronte com um
horror já conhecido, todo o medo que se sentiu na primeira vez, retorna.
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