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domingo, 16 de julho de 2023

A Dama da Espada, parte 10

 

Higo no Toshi – A Cidade de Higo, a pequena cidade pesqueira incrustrada entre vales e falésias tem esse nome por ser a casa ancestral da família Higoi, sendo os Higo os primeiros desta família. No ponto mais alto da cidade fica o castelo Higo.

Há muito tempo atrás, o castelo Higo era apenas uma casa cercada que pertencia a uma família de mercadores que trabalhavam para a vila pesqueira mais abaixo, vendendo os produtos deles para outras comunidades nas proximidades.

Graças à um débito de sangue que um famoso samurai tinha com a família, eles foram elevados ao status de samurais e a casa na colina se tornou uma fortificação e centro de poder da família.

Com o tempo, a importância da família cresceu, Higo no Toshi era pequena demais para acomodar as várias delegações diplomáticas e comerciais que os Higoi recebiam, então o centro de poder mudou para Kuboka, uma cidade maior no centro das terras da família. Mas o castelo Higo continuou sendo um lugar prestigiado, pois era a casa dos dada aos herdeiros mais capazes de proteger a família.

O último habitante do castelo Higo foi Higoi Muzubushi, todos imaginavam e torciam que ele seria o novo senhor dos Higoi, o apontamento dele como protetor do castelo Higo pelo seu pai era mais um sinal que isso aconteceria.

Mas as coisas começaram a ficar estranhas, boatos maldosos de que Muzubushi conspirava contra os aliados Date e usava a cidade isolada para realizar seus complôs começavam a circular, e os habitantes de Higo no Toshi já eram vistos com suspeita por estrangeiros que acreditavam nessas mentiras.

Até que o ataque Date aconteceu, de surpresa e sem aviso. Higoi Muzubushi e sua esposa Mayumi lutaram como leões, mas foi inútil, seus inimigos eram muitos.

Os Date declararam que todos os sobreviventes que não se renderam ou juraram lá mesmo lealdade a Higoi Ooshibu eram traidores, incluindo a Pequena Dama, que de alguma maneira conseguiu fugir naquela noite.

O castelo Higo foi abandonado, mesmo assim a própria população decidiu reforma-lo, principalmente o santuário interno e o quarto dos senhores e hoje ele serve tanto como uma lápide como um marco. Lá a população vai para honrar seus mortos e rezar por um futuro melhor.

Kora Keitarô é o primeiro habitante em dez anos do castelo. O petulante samurai fez questão de lá se estabelecer, o que enfureceu a população.

Mizumi, Konichi e Mayumi sobem para lá.

À medida que sobem, a parede de estacas a direita dá lugar a um despenhadeiro e a rocha natural à esquerda fica um pouco mais baixa. Nada do portão do antigo castelo existe, exceto as fundações de pedra de suas torres. Dois doshins estão postados na frente, eles parecem desanimados, mas saltam alertas ao notarem aproximação, mas se decepcionam com o que veem.

-Konichi-san! O que você e sua mulher estão fazendo fora uma hora dessas? Fala um tanto chateado um dos doshins.

-Olá, Yasuke-san, Matsu-san! Como estão?

- Aborrecidos. – Responde o outro doshin que atende por Matsu. – O magistrado saiu para proteger a cidade e nos deixou protegendo o encrenqueiro.

Konichi solta uma risada sem vergonha e responde – Foi você quem disse isso, e não eu! Kora-sama é nosso hospede de honra, não é?

- Estou louco para que esse hospede vá embora logo. – Retruca Matsu, Yasuke interrompe a conversa e pergunta.

- Mas enfim, o que fazes aqui furando o toque de recolher, Konichi-san?

- Sim, sim! Sui-sama achou que fosse uma boa ideia que minha mulher e minha prima entretecem nosso hospede um pouco, para distrai-lo de tudo isso e vê se ele deixa a cidade mais sossegada.

- Hm, não sei. Se Mayuki-chan conseguir aturar nosso hospede de honra então é mesmo uma boa ideia. Aposto que a ronin já fugiu daqui, Kora-sama deve ir atrás dela assim que se recuperar. – Responde Yasuke sem duvidar da palavra de Konichi.

- Kora-sama está muito ferido? – Pergunta Konichi querendo mais informações.

-Hai, hai¹! O nariz dele está bem quebrado, e o inchaço no estomago continua feio de se olhar. -Responde Yasuke.

- Entretenimento para Kora-sama... hmpf! – Grunhe raivoso Matsu. – Que Sui-sama tem na cabeça para ter essa ideia de entreter aquele estorvo?

- Entendo, entendo... Não foi minha a ideia, só fico feliz por minha mulher conseguir uma rendinha extra, né? Então, podemos entrar?

-É melhor esperar pela volta de Sui-sama para que ele confirme sua história, ou se Kora-sama aparecer por aqui e permitir a entrada de vocês. Não me leve a mal, Konichi-san, mas é difícil imaginar Sui-sama querendo fazer mais que a obrigação para aquele folgado.

Konichi ri com vontade, deixando os doshins até mais relaxados. – Ele disse mesmo que vocês iam duvidar, por isso ele me deu isso para provar... – Konichi entrega o tessen de Sui para Yasuke. – Sui-sama sempre foi um cara muito esperto, então não vou questionar a sabedoria que ele enxerga em apaziguar nosso convidado.

-Tem razão, é claro que não. Dozo²! – Fala Yasuke concedendo a eles a passagem.

- Mas não sairemos daqui. Vocês que se virem em encontrar Kora-sama! Fala Matsu um tanto grosseiro.

- Hai, hai! Obrigado, doshins-sama! Fala Konichi se curvando em respeito enquanto sinaliza para sua mulher liderar o caminho. E assim os três entram no castelo.

Eles cruzam o caminho do que foi um dia o pátio do castelo, as sombras das montanhas ao entardecer cobrem os buracos e escombros, as poças d’agua teimam em refletir os últimos feixes solares.

- Lembre-se do que eu disse, mocinha! Observe e imite tudo que eu fizer, pois lá dentro você não poderá usar essa sombrinha e estará desarmada, nossa passagem para onde quer que você precise ir lá dependerá de quão natural nós parecermos lá dentro.  – Fala Mayuki.

- Hm. – Assente obediente Mizumi. Ela não gostaria de se desfazer de seu boken, mas é um preço a se pagar pela entrada. Ela deposita a sombrinha no arco da entrada principal e segue adentro.

O interior do castelo não está tão diferente de como Mizumi se lembrava, escuro, vazio e silencioso. Ela se esforça para tentar se lembrar de momentos mais alegres que certamente houveram lá, mas tudo que vem a memória são os momentos da fatídica noite da invasão.

Uma doshin passa por eles, Mayuki delicadamente dá passagem para ela enquanto olha para o chão e curva a cabeça graciosamente, Mizumi faz o mesmo e Konichi faz do seu jeito. A doshin lança um rápido olhar curioso para o trio, mas está ocupada demais para pensar mais sobre aquilo.

- Para onde devemos ir a partir daqui, Mizumi-san? Mayuki pergunta.

- Preciso ir até a sala de Haman, eu devo cumprimentá-lo, mas não lembro onde fica.

- Ah! O santuário! Sabemos onde é, devemos subir para o segundo andar e pegar à direita, é um portão grande no final do corredor. -Fala Konichi, empolgado em ajudar.

Após aquela doshin, nenhum outro guarda apareceu, eles chegam até a escadaria e a sobem para o corredor do primeiro andar, infelizmente se deparam justamente com Kora Keitarô.

O garoto estava distraído, fungando e tocando delicadamente o nariz enquanto xinga baixinho, está usando apenas seu nagajuban³ e sandálias, quando ele levanta os olhos para o trio, ele se assusta tanto quanto eles, mas depois ele sorri malicioso, como se tivesse encontrado o que queria.

- O que fazem aqui no meu castelo? – Pergunta o jovem samurai. Mizumi desejou voar contra sua garganta pela presunção de chamar o castelo da vila “dele”, mas a mão de Mayuki apertando a barra de sua manga a lembrou de sua missão.

- Kora-sama! Vim a mando de magistrado Sui-sama trazer estas maiko para lhe entreter! Elas podem também aliviar suas dores! – Fala de forma teatral Konichi propositalmente omitindo nomes.

Então, Mayuki toma a liderança, e com um elegante floreio, fazendo uma reverencia para Keitarô. A contragosto, Mizumi também o faz, mas sem o mesmo animo.

- Entretenimento, hein? - Fala Keitarô rindo sozinho, esquecido das dores enquanto examina Mayuki afagando com uma mão seu braço. – Hm, muito franzina... – Ele procede a apalpar a mulher com as duas mãos, experimentando suas ancas, coxas e seios, mesmo a treinada Mayuki se incomoda com aquilo, não é de bom tom fazer isso com maikos! Ele não tem modos? Pensa. Konichi, não gostando do que vê, pigarreia.

- Senhor Kora-sama, a dama a sua frente é ótima curandeira, e também sabe tocar koto4 e shamisen5 como ninguém! Não precisa...

-Silêncio homenzinho! – Grita esganiçado Keitarô. – Ela é muito velha mesmo. Sabe fazer massagem, não sabe? Tenho um unguento que quero que passe na minha barriga, estou com muitas dores. Agora deixe-me ver a outra!

- Sim senhor! – Fala Mayuki sorrindo, mas um tanto cabisbaixa. Humilhada, ela dá passagem ao samurai, desejando que Mizumi tivesse seu pedaço de pau para explodir a cara dele, mas isso só pioraria as coisas. Desarmada o que ela podia fazer? Uma garota pequena como ela contra um bruto gigante como ele? Por isso olha firmemente para Mizumi para que ela se comporte.

MIzumi se esforça para não olhar para o homem, sabe que seu olhar pode ser o bastante para que ele o reconheça, mas a verdade é que ele está tão distraído pela surpresa que não reconheceria mesmo que ela o olhasse nos olhos.

-Hm, essa parece mais jovenzinha! – Fala excitado enquanto procede a examinar sem pudor o corpo de Mizumi, apalpando seus braços, peito e barriga. Mizumi abaixa ainda mais a cabeça para esconder o rosto e a raiva, morde o lábio para sufocar um protesto. Keitarô toma o ato como timidez e docilidade, o que o deixa ainda mais encantado. – Esta é muito mais macia! – Fala despudorado. – Muito bem, elas vão servir! Me sigam! – Fala enquanto volta pelo corredor que veio, certo de que irão segui-lo.

Os três se entreolham, Mizumi faz que não com a cabeça, claramente chateada com o encontro. Konichi não tira a razão dela.

- Deve haver outro jeito. – Konichi fala.

- Sim, podemos despistar um bobão desses. – Mizumi fala amuada. Mayuki tem outra opinião.

 - Vocês estão loucos? Não perceberam o cheiro de bebida e o derrotismo? Ele provavelmente acha que você conseguiu escapar e deve estar se embriagando para afogar a humilhação, mocinha! Se fugirmos agora, ele no mínimo irá nos perseguir por puro ódio! Você pode até conseguir fugir, mas e nós? Nossa vida é aqui! Não e não mesmo! Vamos seguir com isso. Bêbado como está ele dormirá logo e podemos seguir até o santuário, assim ele não suspeitará de nada!

-Não sei se vou suportar ver aquele homem lhe tocar novamente... – Fala Konichi com uma coragem atípica.

- Não – Fala Mizumi balançando a cabeça – Não permitirei que ele toque Mayuki-chan também. Deixe que eu suporto os beliscões e tapinhas dele, não seria a primeira vez que fazem isso comigo. – Fala Mizumi conformada.

- Tem certeza, mocinha? Eu também não me importo de receber uns amassadas de um bêbado!

- Não, tudo bem, ele se interessou mais por mim... -Mizumi solta um risinho. – É até irônico isso, pela manhã ele tentou arrancar minha cabeça.

Nesse momento, Keitarô olha para trás e grita. – Vão ficar parados aí? É por aqui eu já disse!

Os três concordam em segui-lo.

Keitarô os leva até o quarto dos senhores, no segundo andar, no caminho Mizumi conseguiu vislumbrar o portão do santuário. Paciência, é preciso lidar primeiro com esta situação.

O quarto dos senhores tinha sido transformado em uma espécie de ofertório, mas que agora também possuía um futon, escrivaninha, apetrechos de escrita, uma caixa de remédios, bebidas e os pertences pessoais de Keitarô. Ele entra no quarto e se senta imponente, sinalizando para que os outros juntem-se a ele, Konichi senta junta a porta e tenta se fazer invisível, Mayuki vai até a caixa de remédio e começa a preparar os unguentos, Mizumi fecha a porta com cerimonia e ia se sentar mais afastada, quando Keitarô interviu.

- Oba-chan6, me disseram que você toca shamisen, não é? Pois pegue o instrumento e deixe a bonitinha passar o unguento!

Mizumi e Maiyuki se entreolham, mas decidem acatar. Mizumi termina o preparo do unguento enquanto Mayuki pega o shamisen, se sentando um pouco afastada e começa a tocar, cantando uma música de sua infância. Keitarô abre seu juban e começa a desenfaixar seu ferimento, gemendo baixinho de dor enquanto o faz, Mizumi nota que está bem inchado e roxo, mas ele iria viver. Ela senta à frente de Keitarô, com o pincel embebido com o unguento pronto, quando ele a puxa para si a pondo ao seu lado e fala malicioso. – Passe com as mãos.

Mizumi faz que sim cabisbaixa, escondendo a breve careta e, obediente, começa a aplicar o unguento com as mãos nuas. Keitarô solta uns grunhidos mistos de dor e prazer enquanto afaga o ombro de Mizumi com seu braço direito.  Mizumi decide então explorar o ferimento de Keitarô.

- Ite7! – Grita de dor Keitarô quando mizumi aperta seu ferimento com os dedos.

- Sumimasenn8, samurai-sama! Sou muito desastrada!

-Só tome mais cuidado, mulher!

Após mais dois apertões, Keitarô decide que é melhor ele mesmo enfaixar o ferimento quando ela termina, pedindo que ela lhe sirva saque enquanto ele o faz. Mizumi acata, servindo uma generosa taça de saquê.


- A primeira boa ideia de Sui foi trazer você aqui, garotinha. Vou precisar de uma boa diversão e um descanso para amanhã. A maldita ronin que me humilhou não deve estar muito longe! Aposto que a cadela imunda deve estar jogada na estrada cansada e ferida quando eu a encontrar. Mas desta vez não serei tão piedoso, deixarei ela nua para não inventar coisas, e cortarei a cabeça dela neste castelo para todos dessa vila estúpida assistirem! Vão se arrepender por terem caçoado de mim!

- O que ela fez de tão errado, samurai-sama? – Mizumi arrisca perguntar afinando ainda mais sua voz.

Keitarô empertiga e chacoalha Mizumi pelo ombro ofendido com a pergunta, vendo que ela se encolheu inteira, ele sorri satisfeito e responde.

- Não se pode esperar inteligência desse rostinho lindo, hein? A imunda é uma traidora do clã, e isso basta. Os Date a odeiam e tenho certeza que receberei um bom posto como magistrado quando eu a matar.

- Você já a perseguia, samurai-sama? Ela parece perigosa. – Arrisca Mizumi.

Keitarô sorri orgulhoso e fala. – Já sabia que a cadela cedo ou tarde voltaria para cá, estou atrás dela desde que ouvi falar de suas ações em Orimaki.

Mizumi fica assombrada com o que ouviu. Ela utilizou o nome Kaeda em seu trabalho na cidade de Orimaki9, como ele sabia que Kaeda era Mizumi? E se nem ela sabia que viria para Higo no Toshi, como ele sabia? Ah não ser que tenha sabido através do senhor Higoi. Ele também mencionou os Date... será que foi ele? Só ele poderia saber da importância de Higo no Toshi para ela, mas porque ele faria isso?

- Ficou tão quietinha de repente, meu pêssego. – Fala Keitarô puxando-a para praticamente seu colo enquanto a envolve com os braços.

- Samurai-sama, ainda é cedo, vamos beber mais... – Mizumi protesta, mas isso faz com Keitarô avance mais fazendo-a derrubar a garrafa de saquê. Ele afrouxa o obi da moça com um puxão enquanto apalpa seu peito com a outra. Talvez seja possível controlar ele para que ele fique só nessa, depois é só o convencer a beber mais um pouco e se livrar disso. Mizumi pensa.

- Você é tão musculosa embaixo dessa gordurinha gostosa! Lembra uma carpinteira que serve minha irmã no Farol de Pedra, uma coisinha como você, pequena e macia, mas com músculos embaixo... gemia como um esquilinho! – Ao terminar de sussurrar no ouvido de Mizumi começa a beijá-la, sua mão massageando o peito da garota de forma mais rítmica.

- C-conte-me mais sobre ela, samurai-kun... – Mizumi grune incomodada com os apertões de Keitarô, mas ele confunde com um gemido de prazer e começa a forçar sua mão esquerda por entre as pernas da ronin disfarçada de maiko.

- Samurai-sama, aí não! - Mizumi protesta, mas não obtém resposta, Keitarô agora geme enquanto a mordisca e a beija, seu braço direito agora massageando todo o peito dela enquanto força o seu esquerdo entre as coxas da garota. Mayuki para de tocar, e Konichi prende a respiração. Mizumi entende que está em desvantagem e precisa agir. Ela decide ganhar um pouco de controle conduzindo o posicionamento dos corpos. Se inclina para a frente dando a nuca para Keitarô, este aproveita o movimento para finalmente enfiar a mão por entre as pernas da ronin e afagá-la. Mizumi solta um gemido fingido enquanto posiciona suas mãos para controlar as dele, e se inclina um pouco mais para frente, levantando um pouco seu quadril. Keitarô vê naquilo um convite e se inclina para envolvê-la, dando uma pequena folga entre si para levantá-la pela virilha ela solta um gemido alto, e de repente o rosto dele explode em dor intensa.

- Sumimasenn, samurai-sama, deixe-me ajudá-lo! – Fala Mizumi após a dura cabeçada, imitando uma vozinha afetada enquanto salta de pé e se posiciona nas costas de Keitarô, que, muito preocupado com seu nariz que se abriu novamente em uma torrente de sangue, não suspeita de nada.

- Cadela burra! Você quebrou meu nariz... De novo! – Keitarô fala se referindo ao fato de seu nariz ter sido agora quebrado duas vezes no mesmo dia, mal sabe ele que a assertiva de que foi a mesma pessoa que o fez também é correta. Sem saber o que fazer, o grande samurai segura seu nariz numa tentativa de parar o sangramento. Ele notou Mizumi indo para trás dele e tem esperanças de que ela vá fazer algo para ajudá-lo.

Konichi e Mayuki se recolhem nas sombras enquanto olham Mizumi agarrar as golas do juban de Keitarô enquanto praticamente se deita nas costas dele, dobrando os braços enquanto se mantem segurando o quimono e finalmente torce as golas as puxando e cruzando contra o pescoço do jovem. O fato dela estar deitada sobre Keitarô não deixa nenhum espaço para ele se soltar. Sentindo a sua garganta fechar violentamente, Keitarô finalmente entende que está sendo atacado.

- Maldita! É você, não é? A imunda ronin traidora! – Keitarô fala com uma força reserva impressionante, enquanto se levanta urrando em fúria, quase fazendo Mizumi cair, mas ela está agarrando firme nas golas cruzadas, o que faz apenas com que o apertão se acoche, Mizumi sabe que se Keitarô não conseguir a reverter por cima, ele nunca escapará do enforcamento nami juji jime10 e que enquanto ela estiver agarrando as golas cruzadas as tentativas de escapar vão apenas agravar o sufocamento. Em seu desespero, Keitarô não se deu conta disso, então Mizumi decide controlar melhor o sufocamento para não acabar matando o garoto acidentalmente.

Com um urro, Keitarô se joga no chão de costas, esmagando Mizumi contra o chão e seu corpanzil. Mizumi grunhe de dor, mas não larga as golas, as segurando como uma doninha segura sua presa em sua mandíbula. Ela aproveita que a queda foi tão ruim para ele quanto para ela e enlaça as pernas no abdômen de Keitarô enquanto ele se recupera.

Keitarô se levanta desesperado, suas mãos arranhando os braços de Mizumi num esforço inútil de retirá-la, as tentativas de respirar do jovem são fúteis e ele não tem ar suficiente para continuar de pé por muito tempo, ele cambaleia e se joga desta vez contra a parede, mas Mizumi estava preparada para o impacto. Ele então começa a puxar os cabelos de Mizumi e socar sua cabeça. Mizumi responde chutando seu ferimento no estomago com sua perna direita, fazendo o pouco folego de Keitarô se dispersar mais rápido ainda. Keitarô tenta mais uma trombada contra a parede e desfere um grande soco contra a cabeça da ronin que continua torcendo suas golas com força, e desferindo chutes, mesmo com toda a punição.  

Keitarô, já sem folego começa a jogar seus braços inutilmente para os lados, seus olhos se esbugalham e começam a rolar para cima, sua boca aberta buscando por ar enquanto baba escorre para fora e sangue de seu nariz para dentro. Finalmente seus braços pendem ao lado de seu corpo sem força e ele tomba de joelhos. O jovem solta um ininteligível pedido de clemencia ou de socorro antes de finalmente cair de cara no chão. Mesmo tendo sido espancada e toda descabelada, Mizumi continua a apertar as golas cruzadas do samurai caído com força, até ela não sentir nenhuma luta em Keitarô e depois por uns segundos a mais para ter certeza, finalmente o soltando.

Toda desarrumada, Mizumi se senta sobre o corpo inconsciente de Keitarô enquanto estapeia a sua cabeça. – Dessa vez continue caído, samurai-sama. – Ela fala com uma cortesia carregada de ironia para seu oponente caído.

Após recuperar o folego, a ronin recompõe suas roupas e enrola seu cabelo num laço simples e fala para seus aturdidos companheiros.

- Nee11? Acho que no fim acabou tudo de acordo com o plano, heim? Ele está dormindo, e agora podemos partir, né? – Fala Mizumi com jovial bom humor. Aliviado, Konichi rí como um maníaco e Mayuki esconde o risinho com a manga. Só espero que isso não recaia sobre nós. Pensa Mayuki com assombro, mas não ousa reproduzir seu medo em voz alta.

Eles então saem do quarto dos senhores, se certificando de que não há ninguém nos corredores, fecham a porta com a cerimônia apropriada, e sorrateiramente vão até o portão do santuário interno.

 

1 – “Hai” é “sim”, então “hai, hai” é “sim, sim”.

2 – “Dozo” é usado para conceder ou permitir uma ação, algo como “por favor” ou “faça as honras”.

3 – nagajuban ou simplesmente juban é o robe que tanto japoneses quanto muitos tazaianos usam como roupas de baixo. Obviamente não é de bom tom sair por aí vestido apenas com isso.

4 e 5 – Koto é um instrumento musical de cordas dedilhadas semelhante a uma grande citára enquanto o shaimisen também é um instrumento de cordas que é tocado de forma similar a um banjo.

6 – Oba-chan é vovó. Pode ser usado de forma carinhosa ou grosseira, dependendo do contexto.

 7 – “Ite!” significa “ái!” ou “tá doendo!”.

 8 – sumimasenn – perdão, me desculpe.

9 – Perdido? Orimaki é uma cidade não muito longe de Higo no Toshi, ela é dominada por dois chefes de quadrilha, ou oyabuns. Um se tornou magistrado da cidade após ambos terem entrado em guerra por poder. Mizumi foi contratada como mercenária por um deles nesta guerra.

10 – Técnica do Jujutsu, o ancestral do judô e do Jiu-Jitsu, que consiste enforcar o oponente cruzando as golas ou outro tipo de abas do traje contra o pescoço do oponente. Até hoje é uma das técnicas mais eficientes do Judô e Jiu-Jitsu modernos. Conhecido como Sufocamento em Cruz, ou “Cross Choke”.

11 – expressão que dá ênfase para a sentença. Mizumi é viciada em usá-la, característica de sua criação caipira.

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