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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A Campeã da estrela do Norte, parte 02

 2. Senhores da Guerra 



Quando criança eu brincava com meus irmãos de Senhores da Guerra, era um jogo que toda criança Uthgardt da tribo da Grande Serpente brinca, funcionava assim: as crianças das famílias se juntavam em grupos e lutavam entre si por um território, todos usavam essas faixas coloridas em volta da cintura, que eram amarradas da melhor forma que você pudesse amarrar. Se você perder ela você estava morto. Apesar de ser um jogo de criança, nós levávamos bem a sério e ele nos preparava para a vida adulta, de guerreiros. Eu e meus irmãos ficávamos todos no nosso grupo e quando digo todos, eram todos, desde nosso caçula o Leif, que nasceu depois de chegarmos da nevasca que quase me matou, até eu, que sou mulher. Era raro mulheres brincarem nesse jogo.  

- Sua irmã vai participar?  - Perguntou Balder, um dos garotos que brincava contra nós a Dounir, que era quase sempre o líder do nosso grupo. 

- Estamos precisando de mais um, ela é mais uma. - Respondeu ele como se ele tivesse perguntado algo bobo. Balder piscou, como se não estivesse entendendo a língua que meu irmão falava e disse: 

 - É Senhores de Guerra, não Senhoras de Guerra! 

Meu irmão riu alto e perguntou:

- Está com medo da minha irmã agora? É por isso que você olha esquisito para ela e não a encara quando ela encara você? 

Balder ficou tão corado que eu me preocupei que ele tivesse sido atingido por uma lufada de vento que eu não senti.  

- Claro que não! Mas eu não vou bater nela! 

- MAS EU VOU BATER EM VOCÊ! - Eu falei alto. Eu já era bem grandinha, mas bem magrinha e com uma cabeçona, mas minha voz já era bem alta e eu tinha confiança em mim porque sempre brinquei de luta com meus irmãos.  

Balder olhou para mim bem ofendido, seus lábios tremeram e ele saiu correndo. Meu irmão riu bem alto.  

Havia mais dessas opiniões, contra mim e contra o Leif. Mas nem eu nem meus irmãos se importavam, eles já estavam acostumados comigo e eu com eles. Nós sabíamos o que cada um podia fazer e confiávamos um nos outros. Eu nem reparava o quanto os outros meninos fora do meu grupo se ressentiam de mim.  

Éramos o grupo mais respeitado e o mais temido. Ainda bem que existia o Couldourn e o Balder, eles eram loucos e gostavam de competir conosco. Não é preciso ser irmãos para se formar um grupo, o grupo de Couldourn e do Balder eram prova disso, o grupo deles era formado por crianças de famílias mistas, eles gostavam de ter só os melhores. Mas “melhor” para eles era maior, mais velho e mais forte. Para nós não. Dounir nos ouvia a todos e por isso ele buscava também pelos espertos, pelos ágeis, pelos pequenos e pelos sabidos.  

Como já devem ter notado, nosso grupo também não era só nós seis irmãos, quando surgia a oportunidade de uma brincadeira em grande escala, como um ataque grande ou uma defesa dura, alguns grupos se fundiam e recrutávamos crianças que de outra forma nem teriam chance de fazer parte da brincadeira. Teve uma vez que os Dermin chegaram a ser quinze para atacar o valinho do pinho verde, eram uns doze defendendo. Tínhamos alguns entre nós que ninguém dava nada, eu e Leif inclusos, mas isso também é bom porque o inimigo subestima e se distrai, e aí nós nos tornávamos o verdadeiro perigo. E quando eles nem percebem, Leif, que todos estavam ignorando está com a bandeira deles capturada! 

De qualquer forma éramos o grupo mais temido e respeitado do jogo, e quando era para decidir onde seria o jogo e quais seriam os objetivos da brincadeira, nossa palavra era a final.  

Uma vantagem que nós tínhamos sobre os outros é que nós levávamos o jogo para um patamar maior de seriedade, estudávamos o território e suas características para tirar o melhor proveito deles. Por exemplo, muitos tem medo de entrar na taiga, porque o chão é traiçoeiro, e buracos podem se abrir debaixo de seus pés! Além de terem bichos como lobos. Mas Beladas descobriu uns tuneis que poderiam ser usados para flanquear o inimigo. Perseguidores viam a gente sumir na floresta e reaparecer do outro lado! 

Outra era a caverna subterrânea do lago congelado, havia muitos ursos por lá, mas nós não tínhamos medo deles, porque sabíamos afastá-los, o segredo Beladas sabia, madeira de pinho verde, que faz muita fumaça quando queima. A caverna era nosso quartel secreto, era lá que nós ficávamos do sol a pino até um pouco antes do por do sol contando histórias e planejando a próxima aventura, lá também que estocávamos tudo, incluindo comida e madeira de pinho verde – que também é ótima para defumar carne, mas não pode exagerar, porque se faz mal aos ursos, imagina para nós!  

O lago congelado tinha esse nome porque ele quase sempre era coberto por uma camada de gelo. Essa camada podia ser fina ou grossa. No inverno nem é possível ver ele, porque ele fica debaixo da neve. Mas é um lago bem grande, era um mar para nós. Havia muitos ursos lá e ninguém ia por causa disso, só os pescadores. Mas Beladas aprendeu com os pescadores que os ursos gostavam de lá porque tinha muito peixe, pois peixe gostava de dormir e botar ovos debaixo de gelo. Então Dounir nos liderou para conquistar aquilo. E o jogo lá foi um dos mais memoráveis! A diversão era porque podíamos usar equipamentos, como esquis e raquetes então um grupo atacava pelo mar, com os esquis e os defensores defendiam a terra. Se todos os invasores estivessem fora do gelo ganhavam. O defensor só vencia se todos os invasores perdessem suas faixas. Os pescadores acharam que éramos loucos por estarmos brincando lá! Kant não foi pois estava doente e mais tarde os adultos nos proibiram de repetir a brincadeira no lago congelado. 

Outro ponto muito importante, mas não secreto era o toco velho, o toco velho é uma grande árvore que secou e caiu, ficava em Lureskog e a gente tinha construído um forte lá, era só um amontoado de madeira e pregos com escadinhas de pedra empilhada e uma passarela baixa, mas que passava a altura de um adulto, e o toco velho claro, servindo como a parede de trás, era uma defesa formidável para uma criança. Era de longe o lugar mais popular para a brincadeira, e nós tínhamos uma vantagem lá, porque fomos nós que construímos aquilo, então era nosso. E quem quisesse usar deveria pedir permissão a um Dermin. 

Já falei que os adultos nos proibiram de brincar no lago congelado, mas nós éramos crianças, e crianças bem arrogantes, então brincávamos lá secretamente, íamos quando os pescadores iam embora, no pôr do sol, fazíamos algumas fogueiras de pinho, para afastar os ursos e brincávamos por lá. Mas os dias de brincadeira do grupo Dermin estavam para acabar e o que começou com uma brincadeira terminou numa luta por nossas vidas. 

Dounir, Beladas e Kant iam na frente. Como eles eram mais velhos, eles iam ajudar os pescadores na pescaria enquanto nós ficávamos esperando Balder, Couldourn ou os dois para avisarem quando podíamos nos aproximar. Nesse dia eu estava ajudando minha mãe na fabricação de umas jóias.  

As jóias eram complicadas de se fazer, quero dizer, se precisa de paciência. Era preciso moldar dois pedaços de argila com padrões sagrados, como espirais, entrelaçados, nós, animais... Juntar eles e esperar secar. Depois se devia pegar o cobre, ou a prata, que já estavam derretidos dentro de um pote gigante de barro bem quente e despejar no molde até vazar. Daí era só esperar tudo secar e quebrar o molde. 

Era muita espera, e eu estava esperando mais Couldourn me chamar do que a jóia ficar pronta quando ví Couldourn e o bando deles correndo entre os arbustos, eles nem pararam para me chamar, e fiquei ofendida, e um pouco ansiosa, porque eles corriam com medo. Então apareceram da neblina dois pescadores correndo. Então meu medo se intensificou, imaginando que eles pegaram meus irmãos.  

Mas tinha algo errado, os homens pareciam que haviam corrido o caminho inteiro sem parar, seus rostos estavam vermelhos, seus olhos esbugalhados, suas narinas dilatadas e um forte vapor saia de suas bocas quando eles gritavam: 

- Worgs! Worgs estão atacando!  

Ursos eram um problema no lago congelado, mas com os cuidados certos era possível afugentá-los. Lobos eram mais ariscos, mais ousados, porém os lobos de Lureskog aprenderam a muito a não se meter conosco. Mas worgs, worgs eram outra coisa. Estes lobos gigantes não têm medo de nenhum homem e são cruéis. Eles não precisam de motivos para matar e caçar, eles fazem isso porque sentem prazer em ver o sangue tingindo o solo de vermelho. Mas eles não são comuns nessa região, eles são mais comuns no Portão da Ferida do Mundo, por isso todos demoraram para entender que aqueles homens que não paravam de berrar por ajuda estavam muito sérios.  

Então entendi por que Couldourn e seu bando fugiu e temi de verdade pelos meus irmãos, porque eles estavam lá.  

- Mamãe! Meus irmãos estão pescando no lago!  

O Saeven me disse que eu tenho que colocar mais emoção no que eu escrevo, mas eu não sei fazer isso. Não consigo descrever o quanto meu sangue gelou naquele momento, o quanto meus olhos lacrimejavam, mas eu não chorava, porque estava apavorada demais para chorar. Não consigo descrever o pavor que senti em perder todos meus irmãos e ficar sozinha no mundo – eu e Leif, que era uma criança de sete Nightals e que não aguentou a espera e já dormia. Eu não consigo pôr no papel essas coisas, mas ele sabe como eu me senti, porque eu falei para ele e ele viu nos meus olhos. 

Minha mãe parecia que já sabia, porque ficou pálida assim que os homens apareceram. Ela correu para chamar o meu pai que logo entendeu a situação e chamou seus homens. E outros pais chamaram seus homens e os pescadores se armaram. E logo, muitos guerreiros da tribo estavam armados de lanças e tochas, facas, machados, espadas e escudos e prontos para defender nossos filhos que corriam perigo. Minha mãe pegou sua lança e queria ir.  

-Você não Muiren! – Meu pai disse a ela. 

- Sou lanceira, também vou! – Ela respondeu. 

- Fique aqui que é mais seguro, eu irei buscar os outros. 

- Eu irei também! Eu sou a mãe deles!  

- E se falharmos? Quem irá defender Leif e Serena? Quem irá coordenar a defesa?  

- Eu defendo o Leif! – Eu falei, ou acho que falei, mas fui ignorada.  

Minha mãe aquiesceu, mas disse que ele deveria voltar com meus irmãos. Eu queria ter dito o mesmo, mas percebi que eu era só uma criança impotente naquela noite. 

E foi no Lago Congelado onde aconteceu a batalha, onde Kant fora pescar como menino e morrera como guerreiro, onde Beladas e Dounir provaram o porquê de todos dizerem que um dia eles seriam grandes guerreiros e sobreviveram junto aos demais pescadores até serem resgatados pelos reforços. Mas muitos morreram naquela noite. Dounir tinha 16 Nightals, Kant e Beladas tinham 15, eu 11 e Leif 7. 

Os worgs não vieram sozinhos, eles foram trazidos por Feanurd, um Jarl Jötunn, um senhor da guerra gigante de gelo. Ele veio porque soube que nosso chefe estava longe e desceu para nos saquear achando que seriamos presa fácil. Ele trouxe junto seu bando Jötunn e seus worgs. 

Jötunns são o maior perigo da Espinha do Mundo, pior que eles apenas uma horda orc ou um Dragão antigo. Eles são muito altos, medindo três adultos empilhados e são muito fortes, quase tão fortes quanto Bestas-trovão, que eles às vezes usam como montaria. Eles são cruéis e terríveis, mas são covardes, atacam apenas quando tem certeza de uma vitória fácil. E nós parecíamos uma vitória fácil, porque muitos de nossos guerreiros acompanharam nosso chefe Bardawulf Coração Duro para um conselho com os Corvos Negros, que roubaram de nós e não queriam admitir.  

Mas Fearnud teve uma surpresa, seus worgs não conseguiram quebrar a formação dos pescadores há tempo, pois Dounir, Beladas e Kant conseguiram discipliná-los a ficarem em um círculo defensivo no meio do lago e ele e seus Jötunns estavam com medo de pisar no lago e rachar o gelo com seus pesos e afundarem. 

Quando meu pai chegou com os reforços, os Worgs desistiram da emboscada e se juntaram aos gigantes, que começaram a contornar o lago para pegá-los. Mas eles foram espertos e não ficaram para lutar, no lugar recuaram para a segurança da tribo.  

Minha mãe junto com Gweshen, a filha de Bardawulf e outros adultos que ficaram para trás reforçaram nosso acampamento como puderam. Gweshen é uma mulher formidável. Ela era jovem, apenas 17 Nightals, mas era a cria mais forte de Bardawulf Coração Duro. Seu outro filho era um homem pálido e fraco que conversa com os espíritos e os deuses depois de um acesso de tremedeiras, onde ele fica rijo e babando, depois volta de novo a si com mensagens dos deuses. A mãe de Gweshen morreu não faz muito tempo num parto de um menino que já nasceu morto. Então Gweshen era a aposta de nosso chefe para manter sua linhagem no poder, por isso que ela era forte. Mas mesmo assim éramos poucos que realmente sabiam lutar – mesmo se você contasse com a volta dos guerreiros que saíram ao resgate.  

Mas então elas vieram, as Guerreiras de Gwynharwyf¹ ou da Estrela do Norte como vocês civilizados a conhecem. Eu já havia ouvido falar delas e as admirava. Elas usavam capas brancas e armaduras prateadas, usavam elmos decorados e carregavam lanças, arcos, espadas, clavas e escudos, além dos lendários grandes sabres curvos. Elas sempre apareciam para nos proteger quando mais precisássemos, e lá estavam elas, comandadas por Elenira, com sua cabeleira loira trançada em mil tranças e seu grande sabre curvo apoiado por sobre o ombro, a líder das Guerreiras tomando frente de todas. Daí eu fiquei feliz, mas não Gweshen. 

- O que fazem aqui, por que não estão com meu pai? - Perguntou Gweshen a Elenira. 

- Elrem, o Sábio mandou vigiarmos as montanhas. Avistamos os gigantes e viemos ajudar. - Respondeu Elenira. 

- Só assim para você desgrudar de meu pai, não é? Sua cadela.  

Na época não entendi por que Gweshen falou aquilo para Elenira, na minha cabeça de criança foi algo muito grosseiro para se dizer para uma heroína. Hoje eu sei mais, mas ainda não concordo.  

Meu pai voltou com Dounir e Beladas e os demais sobreviventes e se somaram às defesas. Eu só podia assistir, indo sempre checar o Leif que dormia como se nada estivesse acontecendo. Fiquei triste ao não ver Kant, mas não pensei o pior naquele momento, porque os gigantes estavam chegando. 

Estava agora no meio da noite, nosso acampamento todo foi recuado para a área mais elevada e perto da taiga, para caso precisássemos fugir por lá e para termos uma defesa natural. A neblina natural da noite parecia muito assustadora e sinistra, como se a natureza também fosse um inimigo, porque era. Neblina nunca atrapalhou os Jötunns que conseguem enxergar por cima delas.  

E então ouvimos os gritos de guerra dos Jötunns. A voz deles é grossa e lembra o barulho que pedregulhos rolando uma montanha fazem no meio de uma tempestade. Sua língua soava como o estalar de um trovão enquanto proclamavam desafios e nos chamavam de covardes. Então as pedras começaram a cair. 

Pedras enormes, do tamanho de adultos, pedras de rocha e de gelo, alguns troncos também, sendo arremessadas por cima de e contra nossas fortificações, vindas do nada, se materializando através da neblina. Se você prestasse atenção, era possível prever quando uma iria cair ouvindo o grunhido de esforço dos gigantes ao jogá-las. As primeiras caíram com grande eficiência, assustando, ferindo e matando muitos. Éramos muitos, mas a maioria eram pescadores, lenhadores, caçadores e mineradores, sendo poucos guerreiros. Esses se assustaram e gritavam e queriam fugir.  

Eu ouvia meu pai xingar eles de covardes, ouvia Elenira amaldiçoar cada um que saia para fora longe das fortificações. E as pedras continuavam a cair. Vi uma bem grande cair em cima de um homem e ele sumir embaixo dela. Apenas uma cor rubra no solo preto denunciava que ele estava lá.  

Foi quando ouvi a voz do meu irmão retumbar tão alta quanto a dos gigantes, chamando atenção de todos.  

- Até ontem eu era uma criança! Mas hoje me tornei um homem porque tive que me defender sozinho desses monstros! Vocês querem mesmo fugir e arriscar o mesmo destino para suas crianças? 

Isso fez muitos deles pararem e se envergonharem de sua covardia. Então Gweshen falou: 

- Vocês podem não entender de guerra, mas entendem de caça! Para se pegar um peixe debaixo do gelo, se assusta ele para que ele nada até o buraco! Para se pegar o antílope escondido na floresta, se assusta ele até a armadilha, e para se pegar um homem protegido se assusta ele para longe das fortificações! Os Jötunns não avançam porque querem que fujamos para nos pegar um a um! Não somos peixes, não somos antílopes, somos Uthgardt! 

Gweshen pode ser uma mulher, mas ela tinha uma voz rouca e forte, como seu pai, os cabelos pretos grossos, presos em tranças e trajando uma byrnne² bem feita e um elmo de ferro moldurando seu rosto corado sem demonstrar medo nenhum. De longe, ninguém dizia que ela era uma mulher, e sim uma senhora de guerra. Com isso todos estavam convencidos, tomaram coragem e voltaram, mesmo com as pedras ainda caindo.  

Os gigantes parecem que se frustraram, porque não fugíamos e mandaram os worgs para cima de nossas solapadas defesas.  

Meu irmão Dounir mesmo jovem e inexperiente liderou um bando para combater os worgs. Os lobos vinham com desejo de sangue, mas eles são bons ao atacarem no aberto e circulando, não são bons contra uma fileira fechada e fortificada de lanceiros. Os que conseguiam circular ou pular as fortificações causavam estragos, mas eram vencidos pelas Guerreiras de Gwynharwyf e seus grandes sabres. Havia outros, claro. Mas as guerreiras de Gwynharwyf me encantavam, pareciam espíritos sobrenaturais lutando com selvageria e beleza. Um gigante estava perto o bastante, instigando os worgs ao ataque, seus dentes brilhantes reluzindo com o brilho de nossas fogueiras. Gweshen aproveitou a chance e arremessou uma lança contra ele, acertando dentro de sua boca! Ela ia jogar outra, mas um worg mordeu sua mão e foi logo morto pela sua guarda.  

Os worgs tem medo dos gigantes, mas também são inteligentes e notaram que era inútil continuar nos atacando e começaram a fugir. Isso abriu caminho para atacarmos os gigantes e as guerreiras de Gwynharwyf e os caçadores começaram a salpicarem eles de flechas, alguns tentaram avançar, outros tentaram jogar pedras, mas estávamos muito bem colocados e eles cansaram de serem espetados e recuaram. Todo nós comemoramos e alguns até começaram a zombar de Feanurd. Quando, da escuridão e da neblina, ele gritou com sua vóz rouca que lembrava o barulho de uma avalanche. 

- Riam enquanto podem! Riam de seus caídos e de seus moribundos! Pois vocês estão acabados! Elrem, o Sábio, está morto e frio e vocês estão acabados! Bardawulf Coração Duro e seus guerreiros estão destroçados na lama e vocês estão acabados! O inverno vai ser o mais cruel de todos e vocês estão acabados! Ninguém dará comida a vocês e vocês estão acabados! E eu, Jarl Feanurd domador dos Worgs voltarei em maior número para destroçar o que sobrar de vocês e vocês implorarão para fugir gritando de suas vidas miseráveis e aí estarão acabados! Os Uthgardt da Grande Serpente sairão desse mundo desgraçados e esquecidos. Então riam enquanto podem, seus vermes insignificantes! - E se foi.  

Só havia um silêncio gélido entre nós. Elrem era o xamã protetor da tribo, um xamã sábio e de grande poder que vivia na Caverna da Grande Serpente e que podia assumir a forma de um dragão. Ele já existia quando o mais velho dentre nós havia nascido e era ele que nos abençoava com sua sabedoria nos avisando quando e para onde migrar, onde o clima estava mais brando e a caça e coleta mais farta. Ninguém de nós imaginava a existência da Tribo da Grande Serpente sem ele, mas agora ele estava morto. Bardawulf Coração Duro, nosso líder havia partido para um conselho com os traiçoeiros Corvos Negros com muitos guerreiros e agora estava morto. Se eles estavam mortos então estávamos mesmo acabados. Alguns começaram a chorar. Gweshen não chorou, no lugar olhou com ódio para Elenira. Eu também chorei. Me lembro que o Leif havia acordado e também chorava muito assustado com todo o barulho. Fui lá abraçar ele e chorar junto. Lembro que estava sentindo tanto frio que tremia, mas Leif estava quentinho então abracei ele mais forte. Eu odeio o frio.  

Gweshen teve a mão devorada na batalha que foi substituída por uma mão de ferro. Ela acabou se tornando a nova líder da tribo, mesmo sendo mulher por decisão da tribo. Ela passou a ser chamada de Gweshen Mão de Ferro. 

O irmão de Gweshen, Themrim, O Pálido, era pupilo de Elrem e se tornou o novo xamã protetor.  

Meu irmão Dounir se provou um grande líder, e recebeu o comando de um bando de guerreiros só dele. 

Meu irmão Beladas se provou um grande estrategista, ele ganhou uma cicatriz feia nos lábios, e passou a usar um grande bigode para cobri-la.  

O corpo do meu irmão Kant não foi encontrado, ele provavelmente foi inteiramente devorado pelos worgs. Enterramos seus pertences junto com meu irmão, Culmin.  

1. Gwynharwyf também conhecida como Estrela do Norte é uma entidade divina que é a guardiã e mãe dos povos fronteiriços. Ela é também o braço armado de Selûne – a deusa da lua. E sua aparência é de uma mulher grande e musculosa, de pele brilhante e longos cabelos selvagens cor de prata. Ela se veste em trapos que lembram uma aurora boreal e se locomove através da nevasca, da neblina e da tempestade. Sua arma é um grande sabre curvo. Gwynharwyf é o totem protetor das Guerreiras de Gwynharwyf, que são uma força de elite composta apenas de mulheres vindas de várias regiões das fronteiras do norte, mas principalmente das tribos Uthgardt. Elas ajudam na proteção, caça e coleta e em troca recebem alimentos e materiais para poderem viver.  

2. byrnne é uma camisa ou camisola feita de anéis entrelaçados de ferro ou cobre forrado com um gibão de peles por baixo. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

A Campeã da Estrela do Norte, parte 01

 

1 Porque Odeio o Frio

 



Uma vez o Saeven perguntou por que eu pareço odiar mais que o normal o frio, a minha resposta era sempre “O que vocês civilizados chamam de frio para nós é clima bom para se nadar!”

Ele ria, mas não se convencia. Ele conhecia outros bárbaros Uthgardt, meu irmão por exemplo, e eles não tinham a mesma raiva do frio como eu. Mas um dia eu resolvi falar porque eu realmente odeio o frio.

O frio na Espinha do Mundo é coisa séria, muito séria. O frio da minha terra é capaz de congelar o seu suor no instante que ele brota de seus poros, ele congela água fervente enquanto essa está sendo despejada de uma jarra. Ele arranca pele dos ossos se você for tolo o bastante de tocar em algo sem se proteger. Ele faz seu coração congelar em pouco tempo de exposição em uma nevasca e deixa a sua pele preta com uma mera brisa.

Eu ainda era muito criança quando isso aconteceu, tão criança que o que vou falar aqui foi dito pelos meus pais e irmãos.

Como eu disse, eu era muito criança e adorava brincar com meus irmãos após ajudar minha mãe com tecelagem. Eu vivia rodeada de meninos barulhentos e alegres, e eu queria ser barulhenta e alegre com eles por isso corria para participar dos jogos de luta, empurra-empurra e corrida dos meus irmãos.

         -          Ela deveria estar sempre com você, não gosto que ela brinque com homens. - Disse meu pai para minha mãe. 

         -          Não são homens, querido, são meninos e são os irmãos dela. E por que faria isso com ela se não fiz com nenhum outro depois dos gêmeos?

-         Não sei, ela pode crescer errada... - balbuciou meu pai, mas minha mãe foi logo o cortando 

-          Eu cresci desse jeito. Saí errada?

Minha mãe disse que meu pai riu alto da resposta dela e respondeu

-          Não minha estrela, você ficou perfeita.

Depois fornicaram.

Um dia desses, estávamos todos brincando e uma geada surgiu do nada, minha mãe gritou com todos para entrarmos, então foi o que fizemos. 

Eu já não gostava do frio, mas era uma raiva normal dele. O frio corta,  congela, te força a usar roupas pesadas e acaba repentinamente brincadeiras, como fez nesse dia. Por isso fiquei com raiva da geada, mas obedeci minha mãe e entrei na cabana junto com os outros.

Quando meu pai chegou da caça, eles conversaram sobre a geada e todo mundo ficou com medo de que o inverno chegasse mais cedo.

Eu não entendia muito sobre isso, só sabia que significava que íamos migrar, então já arrumei meus poucos pertences para isso. Meus irmãos mais velhos ajudaram meu pai com o trenó. Daí eu tossi. Lembro de ter sido uma sensação de que um pedaço de carne do meu pulmão tivesse se desprendido, se transformado em ar e saído em forma de uma tosse seca. 

Todos olharam assustados para mim. Mas eu não fui a única a tossir daquele jeito. Kant e Culmin também.

Vocês civilizados não devem entender, mas a vida na Espinha do Mundo é diferente, não temos construções de pedra ou madeira, porque é inútil fazer algo assim porque quando o inverno chega, temos que abandonar tudo que não podemos carregar e migrar para onde não esteja tão frio. Ficar é morrer em uma tumba de neve e nevasca. E quando você volta, tudo que ficou está agora em ruínas e enterrado. Somos parte da Tribo da Grande Serpente e nosso território se estende da Caverna da Grande Serpente até a floresta Lureskog, do Lago Congelado até o Portão da Ferida do Mundo e migramos por estes locais quando precisamos.

No dia seguinte, muitos de nós adoecemos, Kant, Culmin e eu. Kant se recuperou logo, mas eu e Culmin nem sequer acordávamos! Só ficávamos deitados gemendo e babando, muito quentes por conta da febre. Minha família não podia migrar, culpa minha e de Culmin, então eles reforçaram a cabana e torceram para que melhorássemos rápido. Mas não melhoramos.

Vou contar a verdade, eu não lembro de quase nada de quando estava doente! Só lembro de sofrer uma agonia que nunca na minha tenra vida havia sentido. Eu tremia e gemia, eu queimava por dentro e gelava por fora. A dor era tanta que eu não dormia, eu desmaiava e permanecia muito tempo assim, desacordada.

Todos estavam preocupados, não só por nós, mas pela vida de todos. Beladas e minha mãe ficavam cuidando de nós, nos dando caldo, entoando preces e nos fumegando com vapores para que melhorássemos, enquanto Dounir, Kant e meu pai saiam para coletar provisões para garantir nossa sobrevivência. O xamã da tribo ficou o tempo que pode conosco para tentar descobrir o nome do espírito maligno que nos deixava doente, mas ele não descobriu o nome e teve que migrar com o restante da tribo. Pouco a pouco fomos sendo abandonados pelos outros membros da tribo, incluindo meu tio. Isso era muito ruim, porque podia significar a morte de todos. Um dia um vento forte empurrou a neve toda para dentro da barraca e destruiu todas as fortificações que nós havíamos feito. Meu pai ficou tão furioso que chegou a gritar comigo e com Culmin.

-          Decidam logo se vão viver ou morrer!

Eu nem ouvi essa maldição do meu pai, mas parece que Culmin ouviu e não entendeu que só foi uma besteira falada por alguém que está com muito medo por todos nós. Meia semana depois Culmin nos deixou. Ele não bebia mais o caldo, depois desistiu de respirar e mais tarde desistiu de bater o coração.

Engraçado que para mim Culmin foi apenas alguém que eu conheci quando era bem criancinha e que foi embora, não fico triste nem nada ao lembrar dele, ou quando falam sobre ele. É como um irmão distante que nunca mais vou ver.

Eu tinha muito medo de perguntar o que aconteceu com o corpo dele porque, se eu soubesse ele não poderia mais voltar. Mas um dia eu soube, quando retornamos ao sopé da Caverna da Grande Serpente.  Lá há um círculo de pilares de pedra, onde os xamãs da grande serpente cantam e dançam e onde as crianças são consagradas adultas e os adultos guerreiros. Minha mãe uma vez me levou para uma dessas pilastras.

- É aqui que está Culmin.

Meu coração saltou, procurei rápido nos arredores, mas logo me dei conta do que ela queria dizer. Eles o enterraram junto a pilastra de Ches, quando ele nasceu.

Achavam que eu ia fazer a mesma coisa, e a cabana não estava mais segurando a nevasca, então me colocaram em um saco de estômago de Besta-do-Trovão¹, arrumaram tudo que puderam e iniciaram a migração no meio da nevasca. Contra a vontade de meu pai, minha mãe decidiu me carregar junto ao seu peito.

-          A viajem vai ser dura, Muiren! Quer morrer com ela? Deixe-a no trenó, ela estará bem aquecida! Se morrer, foi porque deveria morrer, mas se você se cansar junto, então serão várias mortes!

E minha mãe como sempre responde a rabugice de meu pai.

-          Não! Eu sei que ela vai viver, sinto meus ancestrais sussurrarem isso! E preciso saber quando ela acordará para alimentá-la!

Quando minha mãe fala sobre seus ancestrais não tem mais conversa. Dizem que ela tem dons divinatórios, mesmo se não tiver, quando ela fala sobre eles significa que nada no mundo vai fazê-la mudar de ideia. 

E a viagem foi dura, mesmo todos sendo cuidadosos. Se perdeu tempo porque uma vez Kant se perdeu do restante. E outra vez a nevasca estava tão forte que andamos em círculos, e tivemos que refazer o caminho.

Então chegou um dia que eu não queria comer mais caldo.

-          Coma sua teimosa, eu sei que é ruim, mas coma! Meu irmão Dounir disse para mim enquanto me sacolejava, como se sacoleja um animalzinho moribundo que você não quer que morra.

-         Ela vai comer quando puder. - Respondeu minha mãe. - Deixe-a descansar.

E todos tinham certeza de que eu não sobreviveria por muito tempo mais.

Mas meu irmão estava certo, parece. Eu não gostava daquele caldo.

Como eu disse, eu não lembro de nada nesse tempo, eu estava em outro mundo, em um pesadelo, um pesadelo de dor. Eu tinha certa ideia do que estava acontecendo, mas me pareciam parte do pesadelo. Então não senti o egoísmo infantil que toda criança tem, eu senti medo de perder meus pais de perder meus irmãos, deles morrerem por minha causa. 

Então decidi não morrer.

Duas luas depois, eu acordei com muita fome. Eu me lembro de ter ficado com raiva de estar sendo carregada em um saco de bebê e comecei a chorar!

-          Ela está viva, está viva! - ouvi minha mãe gritar com forte emoção na voz. 

Meus irmãos ficaram muito alegres, e mesmo fracos comemoraram. Meu pai disse que na hora, o rosto dele estava todo congelado, mas ele sorriu e se arrependeu por isso, porque sua boca rachou. 

Estava com tanta fome que tomei o caldo de raiz e carne. Ele descia difícil, minha garganta estava fechada, mas empurrava ele para dentro que engasgava.

- Vá com calma, sua louca! Não vá morrer engasgada agora! - Kant me alertou.

Queria andar junto com eles, mas eles não deixaram e eu acho que não conseguiria. Me colocaram no trenó onde meus irmãos começaram a brigar comigo dizendo que eu dei um susto neles, que era culpa minha pôr a gente estar lá no meio do frio. Mas também estavam muito felizes por me verem viva. Meu pai também ficou, mas não mostrou porque ainda estava preocupado com o caminho.

Decidi que não ia dar mais trabalho que já dei e que ia ficar forte logo e andar junto com todos. Andar no trenó era coisa de bebê e eu já me sentia bem grandinha para ser um bebê.  Eu tinha visto quatro ou cinco Nightals³

No final da jornada, chegamos no Lago Congelado, que não estava congelado. Toda tribo ficou contente em nos ver, e comemos carne de antílope.

Meu pai perdeu parte do nariz e das bochechas na viajem, minha mãe perdeu três dedos do pé e teve feridas no rosto. Ela nunca mais andou direito. Eles foram os que se esforçaram mais. Dounir, Kant e Beladas também se esforçaram muito e ganharam feridas devido ao frio, além disso, Kant perdeu uma orelha inteira, foi no dia que ele se separou.

Eu sofri umas feridinhas nas mãos e no rosto, mas sararam bem porque cuidaram bem de mim. Mas as feridas mais fundas ficaram na minha cabeça. Eu sou corajosa, mas quando começa a esfriar demais minhas pernas ficam fracas e meus pelos se arrepiam e uma sensação de pavor me apossa. Não é só a chegada do frio para mim, é a chegada da doença e da morte.

Depois disso sempre se preocupam comigo e me botam medo quando começa a esfriar muito, como se eu já não me borrasse dele. Engraçado, porque eu sempre sou a primeira a saber quando vai esfriar e sempre a primeira a alertar todos a se protegerem e nunca mais fiquei doente.

E é por isso que eu odeio o frio.

 

1.     Besta do Trovão é um animal muito parecido com um Paraceratherium sendo que lanoso. É uma criatura relativamente dócil, mas foge logo quando avista humanos. Quando acuada ou quando filhotes, elas lutam até a morte, e geralmente é a morte dos caçadores.

2.     Ches é Equinócio da Primavera.

3.     Nightal é o Solstício de Inverno.


A Campeã da Estrela do Norte

 

Prólogo

 

 

Decidi escrever as minhas historias. Na realidade em nem pensava nisso, mas o Saeven, um grande amigo meu, insitiu que eu o fizesse, porque ele gosta muito delas. Então eu decidi escrever. 

Já escrevi e ilustrei um bestiário de monstros que enfrentei ao longo desses últimos anos, mas nunca escrevi histórias, então essa é a minha primeira vez escrevendo uma historia que deve ter um começo, um meio e um fim. Não sei como vai ser o fim, porque ainda não morri. E quando eu morrer não vou ter como escrever o fim. Mas Saeven disse que eu devo escolher um período de tempo da minha vida, e esse período de tempo vai ser essa história. 

Então decidi escrever sobre a minha infância e adolescência, porque o caminho da minha vingança muitos já sabem, e não é só meu para eu escrever sozinha. Além do mais, todos gostam das histórias da minha infância e adolescência, então vai ser isso. Bem, sem mais delongas, assim eu começo ela.

Ao norte do continente, onde muitos acreditam ser o fim de tudo que é conhecido, existe a Espinha do Mundo que para os civilizados do sul é apenas uma cordilheira infindável e impassável cheia de montanhas altas, traiçoeiras e cobertas de gelo onde a vida é dura e difícil, quando existente.

Para os Bárbaros Uthgardt da tribo da Grande Serpente, a vida na Espinha do Mundo é uma dádiva sagrada concedida pela Grande Serpente que poucos conseguem, mas que vale a pena lutar com todas as forças e morrer por ela. Para mim, é minha infância e adolescência, minha família, meu modo de vida, meu lar e meu destino.

Sou membro de uma família chamada Dermin que era o nome de meu avô por parte de pai. Meu pai se chama Klaus Dermison um orgulhoso guerreiro e senhor de guerra, ele veio de um povo duro do além-mar, mas com costumes e modo de vida muito parecido com o nosso, e se juntou a tribo após demonstrar ser digno de ser um de nós. Minha mãe, Muiren Dermin, tem sangue antigo e nobre de grandes homens do passado que viviam em cidades nas nuvens e controlavam os elementos. A água, a chuva, os ventos, a tempestade e geadas, o fogo, a terra e o tremor.

Eu tinha 6 irmãos, Dounir é meu irmão mais velho, alto com cabelos negros iguais da minha mãe, muito forte e carismático, tem espírito de líder e de guerreiro e eu o admiro. Kant e Beladas eram gêmeos e foram o segundo e o terceiro. Os dois de cabelos negros e longos, mas Kant era mais explosivo e irritado, enquanto Beladas parecia que não conseguia perder a cabeça nunca! Culmin, o quinto era ruivo, como eu, gostava de manter o cabelo curto e queria ter uma longa barba quando ficasse maior, era orgulhoso e brincalhão, tinha nosso pai como fonte de admiração, Leif, o sétimo, era o caçulinha, loiro como meu avô por parte de pai, desde cedo demonstrou talentos musicais, e falava para todos que substituiria o bardo¹ da tribo e seria melhor que ele! O quarto morreu antes de completar um ano, então nem nome ganhou. O número quatro é de má sorte entre os Dermin, e por isso não gostamos de quartas tentativas. Se não acertamos em três já ficamos nervosos, por isso nos esforçamos para acertar logo de primeira. Hoje acho que isso é besteira.

Sou a única mulher e a sexta, e me chamo Serena, é um nome bom para uma mulher, segundo meu pai, um nome exótico, vindo de distantes terras do sul que meu pai visitou uma vez quando criança. Diz ele que se apaixonou por uma Serena lá.

Nasci ruiva como ele e cabeça dura como ele também. Meu pai queria que eu fosse a menina doce e serena da família e que me casasse com um poderoso guerreiro da tribo, ou mesmo um xamã, mas bem, o plano dele saiu fora do controle e sou o que sou agora, serena, só no nome.

 

1. Um contador de histórias, normalmente conta as histórias através de poemas e canções.